Ingestão de alimentos ultraprocessados e morbidade respiratória no primeiro ano de vida
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Data
2022
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Editora
Editor Literário
Resumo
Introdução: A morbidade respiratória engloba uma série de doenças de
etiologias infecciosas e alérgicas, capazes de comprometer tanto o trato
respiratório superior, quanto inferior. Emergências respiratórias pediátricas
estão entre as causas mais frequentes de internação hospitalar e óbitos em
crianças menores de 1 ano de idade e alguns fatores tornam as crianças
pequenas mais suscetíveis à essas afecções, dentre eles as aglomerações que
aumentam os contatos da criança com diferentes agentes infecciosos, o
sistema imunológico infantil que está em desenvolvimento em crianças
menores de dois anos e o estado nutricional infantil. Objetivo: investigar a
relação entre fatores socioeconômicos, nutricionais e morbidade respiratória no
primeiro ano de vida. Método: Estudo de caso-controle delineado a partir de
dados secundários da pesquisa “Avaliação da efetividade de estratégia para
prevenção de consumo de açúcar e alimentos ultraprocessados no primeiro
ano de vida em três Regiões do Brasil: ensaio de campo randomizado”. O
estudo foi realizado em três capitais do Brasil (Porto Alegre, Manaus e
Salvador), representativas das macro-regiões Sul, Norte e Nordeste. Para cada
cidade, pares mãe/neonato foram recrutados nos seguintes hospitais públicos
Amigos da Criança: Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, Porto
Alegre/RS, Maternidade Moura Tapajós, Manaus/AM, Maternidade Climério de
Oliveira, Salvador/BA sendo elegíveis mães primíparas ou multíparas, com
idade maior ou igual a 18 anos, parto único hospitalar, com recém-nascidos à
termo, sem intercorrências clínicas e sem outras patologias que impedissem a
amamentação. Para o presente estudo a variável de interesse foi definida como
morbidade respiratória diagnosticada por atendimento médico realizado no
primeiro ano de vida. Para os casos, foram consideradas todas as crianças
diagnosticadas com as seguintes doenças: asma, bronquite, bronquiolite e
pneumonia. Para os controles, as crianças foram distribuídas de acordo com a
idade categorizada (< 6 meses e > 6 meses) e para cada base foi realizado,
por um estatístico independente, um sorteio aleatório (2 controles para cada
caso) entre as crianças que não foram diagnosticadas com doenças
respiratórias. Assim, o tamanho da amostra totalizou 222 crianças. Foram
realizadas análises bivariadas para avaliar associação entre as variáveis e o desfecho, calculando-se as Razões de Chance e respectivos intervalos de
confiança, utilizando Regressão Logística, sendo todas as análises executadas
no software R, versão 4.1.3, considerando um nível de significância de 5%, ou
seja, um p-valor < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.
Resultados: De maneira geral, 52,7% da amostra foi composta por crianças do
sexo feminino, com mães predominantemente na faixa etária de até 30 anos
(61,5%) sendo que a grande maioria das crianças conviviam com menos de 6
pessoas (72,1%) e a renda familiar (per capita) era de até 3 salários mínimos
(76,1%). O Tabagismo materno e o aleitamento materno apresentaram
significância estatística quanto ao desfecho, estando as crianças de mães que
fumam ou já fumaram com chance 2,12 vezes maior de desenvolver infecção
respiratória (p-valor = 0,024). No caso do aleitamento materno, crianças com
aleitamento inferior a 6 meses apresentaram 2,05 vezes a chance de doença
respiratória do que as crianças com aleitamento igual ou superior a 6 meses
(p-valor = 0,036). O centro de coleta também mostrou associação significativa
com o desfecho, tendo os centros Nordeste e Norte se mostrado como um fator
de proteção para morbidades respiratórias, com as razões de chance de 0,15
[0,06-0,33] e 0,38 [0,18-0,77], respectivamente. Ultraprocessados de maneira
geral não apresentaram associação significativa, mas o baixo número de
não-consumidores compromete uma análise mais robusta dessa variável.
Outros fatores também não estavam associados à ocorrência de doença
respiratória. Conclusão: O consumo precoce de alimentos ultraprocessados
não esteve associado à morbidade respiratória. Entretanto tal achado deve ser
interpretado com cautela, uma vez que o consumo precoce de alimentos
ultraprocessados ocorreu em mais de 80% da amostra estudada, fator que
limita o poder de comparação da amostra. Constatou-se que o tabagismo
materno e a baixa duração do aleitamento materno, foram determinantes para
o desfecho de morbidade respiratória em crianças menores de 12 meses. Da
mesma forma, crianças que residiam no Centro de estudo da Região Sul foram
mais expostas ao desfecho que às residentes nos Centros Norte e Nordeste.
Descrição
Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Pediatria, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Infecção respiratória aguda, Ultraprocessado, Aleitamento Materno, [en] Breast Feeding