Correlação da ultrassonografia pélvica com o desenvolvimento puberal em meninas
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Data
2022
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Editora
Editor Literário
Resumo
Introdução: A puberdade, período de transição da infância para a idade adulta em que se
alcança a maturidade sexual, costuma iniciar entre os 8 e 13 anos de idade na menina. Quando
há o surgimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos ou a ocorrência de
menarca antes dos 9 anos, considera-se Puberdade Precoce. O início das manifestações
puberais podem se dar por reativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, isto é,
Puberdade Precoce Central (PPC); por produção periférica ou exposição a estrógenos, isto é,
Puberdade Precoce Periférica (PPP); ou ainda, pode ser devido a um aumento da sensibilidade
do receptor de estrógenos, ocasionando as formas isoladas de puberdade. O diagnóstico é
dado por um conjunto de fatores clínicos, laboratoriais e de imagem. Muitas vezes, o quadro
clínico é sugestivo de PPC, porém o Hormônio Luteinizante (LH) basal encontra-se em
valores pré-puberais. Nesses casos, deve-se lançar mão do exame considerado padrão-ouro
para o diagnóstico: o teste de estímulo com hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) ou
com análogo de GnRH. Todavia, o teste com GnRH ou análogo de GnRH apresenta alto
custo, é invasivo, doloroso e demanda tempo. Por outro lado, a ultrassonografia pélvica tem
se mostrado uma excelente ferramenta na avaliação das patologias pélvicas nas meninas e
também no diagnóstico de puberdade precoce. Este estudo tem por objetivo descrever e
correlacionar as mudanças puberais (estágios de Tanner mamário) com o desenvolvimento da
genitália interna, avaliado por meio da ultrassonografia pélvica. Além disso, objetiva avaliar
os parâmetros habituais da ultrassonografia pélvica como testes diagnósticos para início de
puberdade e, em especial, avaliar um parâmetro menos estudado: o estudo doppler das artérias
uterinas. Métodos: Estudo transversal. Meninas com idade entre 1 ano e 18 anos incompletos
e que foram encaminhadas para o serviço de Diagnóstico por Imagem do Hospital da Criança
Santo Antônio para realização de ultrassonografia pélvica ou de abdome ou de vias urinárias
foram convidadas a participar do estudo durante o período de novembro de 2020 a dezembro
de 2021. O desenvolvimento puberal foi classificado de acordo com os estágios de Tanner
mamário. A presença de telarca foi o critério utilizado para distinguir meninas púberes de não
púberes. Para avaliar a associação entre as variáveis categóricas utilizou-se o teste Qui Quadrado de Pearson. Para a comparação de variáveis contínuas com distribuição normal e
sem distribuição normal utilizou-se teste ANOVA e Kruskal-Wallis, respectivamente, com
teste post-hoc de Bonferroni para comparações múltiplas. A correlação de Spearman foi
utilizada para variáveis quantitativas sem distribuição normal. As variáveis ultrassonográficas
foram avaliadas como testes diagnósticos para início de puberdade, sendo utilizada a curva
ROC para comparação com área sob a curva com intervalo de confiança de 95% e p-valor. O
ponto de corte foi definido por meio do índice de Youden (J) e foi realizado cálculo de
sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo e acurácia. O
nível de significância adotado foi de 5% (p = 0,05) e as análises foram realizadas no software
estatístico SPSS (IBM SPSS Statistics for Windows, Version 25.0. Armonk, NY: IBM Corp.).
Resultados: 60 meninas foram incluídas no estudo com idade entre 1 ano e 17 anos e 6
meses, com média de 8,94 anos (±4,42). Por meio do teste de Correlação de Spearman,
evidenciou-se que o volume ovariano teve correlação positiva significativa com a idade (p
0,001; r 0,89), com o Tanner da mama (p 0,001; r 0,87) e correlação negativa significativa
com o IP médio (p 0,001; r -0,46). A idade teve correlação positiva significativa com o
volume uterino (p 0,001; r 0,87), com o Tanner da mama (p 0,001; r 0,89) e correlação
negativa com o IP médio (p 0,006; r -0,38). O volume uterino teve correlação positiva
significativa com o Tanner da mama (p 0,001; r 0,89) e correlação negativa com o IP médio
(p 0,002; r – 0,43). O IP médio teve correlação negativa significativa com o Tanner mamário
(p 0,001; r -0,47). As pacientes foram divididas em três grupos: no grupo pré-puberal (M1)
com 28 pacientes, 12 no grupo puberdade inicial (M2 e M3) e 20 no grupo de puberdade
tardia (M4 e M5). Na comparação entre os grupos, o volume uterino e ovariano demonstraram
aumento estatisticamente significativo (p 0,001) conforme a progressão puberal. Não houve
diferença significativa entre o IP médio dos três grupos (p 0,23). O IP médio do grupo pré puberal foi de 4,8 (± 1,3), o grupo puberdade inicial foi de 4,1 (± 1,2) e puberdade tardia com
média 3,2 (± 1,9). Quando avaliados os estágios de Tanner individualmente em relação ao IP
médio, observou-se que houve diferença significativa entre os estágios M1 e M4 (p 0,012). O
volume uterino ≥ 2,45mL obteve sensibilidade de 92%, especificidade de 90%, VPP de 90%,
VPN de 93% e acurácia de 91% em predizer início de puberdade. O IP médio ≤ 2,75 obteve
sensibilidade de 100%, especificidade de 48%, VPP de 62%, VPN 100% e acurácia de 72%.
O volume ovariano médio ≥ 1,48mL obteve sensibilidade de 96%, especificidade de 90%,
VPP de 90%, VPN 97% e acurácia de 93%. O diâmetro do maior folículo ≥ 0,75cm obteve
sensibilidade de 96%, especificidade de 44%, VPP de 65%, VPN de 92% e acurácia de 71%.
A presença de endométrio mensurável à ecografia obteve sensibilidade de 100%,
especificidade de 70%, VPP 60%, VPN 100% e acurácia de 79%. Conclusão: A progressão
do desenvolvimento puberal da genitália interna feminina pode ser acompanhada por meio da
ultrassonografia pélvica e é de grande valor no diagnóstico da puberdade precoce feminina. O
volume uterino e ovariano demonstraram ser os melhores testes diagnósticos para puberdade
precoce. O IP de artérias uterinas, no estudo, apesar de útil na avaliação puberal, não foi
superior a outras variáveis ultrassonográficas.
Descrição
Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Pediatria, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Puberdade precoce, Ultrassonografia, [en] Puberty, Precocious, [en] Ultrasonography