Portadores de Streptococcus pneumoniae entre idosos e crianças: avaliação do efeito da vacina conjugada 10-valente
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Data
2021
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Editora
Wagner Wessfll
Editor Literário
Resumo
O Streptococcus pneumoniae coloniza o trato respiratório, especialmente a nasofaringe,
servindo como um reservatório e fonte para a transmissão entre os indivíduos. A colonização é
a primeira etapa para o desenvolvimento da doença pneumocócica, que pode se apresentar de
duas formas clínicas: 1) a proliferação para locais próximos da nasofaringe, causando otite
média aguda e sinusite; ou 2) a Doença Pneumocócica Invasiva (DPI), caracterizada pela
invasão do pneumococo em sítios normalmente estéreis. A doença pneumocócica está
associada a altas taxas de mortalidade e morbidade, principalmente, entre crianças e idosos.
Para controlar a doença, foram desenvolvidas as vacinas pneumocócicas. No Brasil, desde
2010, a vacina PCV10 (Vacina Pneumocócica Conjugada 10-valente) faz parte do Calendário
de Vacinação Infantil. Apesar das vacinas terem diminuído a taxa de DPI, internação e
mortalidade por doença pneumocócica, após a sua implementação foi observado aumento da
doença causada por sorotipos não vacinais. Sendo assim, os objetivos deste estudo foram (1)
avaliar o impacto da vacinação na distribuição dos sorotipos de pneumococo em casos de
doença pneumocócica invasiva, principalmente entre adultos (19-64 anos de idade) e (2)
verificar os sorotipos que estão circulando entre as crianças (< 5 anos de idade) e idosos (≥ 65
anos de idade) sadios. Entre os casos de DPI verificou-se um aumento do sorotipo 19A, que
não está incluído na PCV10. A prevalência aumentou de 3,5% (6/173) em 2008-2010 para 8,1%
(32/395) em 2011-2014 (p=0,04). A não suscetibilidade aos antimicrobianos aumentou no
período após PCV10, devido a predominância do CC 320 (Complexo Clonal) (63,9%; 23/36),
especialmente a ST320, que apresenta como característica a resistência a antimicrobianos.
Como a colonização é um pré-requisito para o desenvolvimento de DPI, é importante conhecer
os sorotipos que estão causando a colonização. A prevalência de colonização entre as crianças
foi de 63,7% (146/229), e entre os idosos foi de 3% (19/627) utilizando o método cultural. Sexo
masculino, presença de congestão nasal ou coriza e frequentar creche ou escola foram variáveis
associadas com colonização entre crianças; entre idosos, asma foi uma condição associada.
Quando associado à técnica de qPCR, com pesquisa direta do pneumococo em amostras
nasofaringe, a taxa de colonização total entre os idosos aumentou para 4,3% (27/627).
Considerando a prevalência total entre os colonizados, o sorotipo 19A foi o mais prevalente
(19,8%; 33/167). Todos os 33 isolados de pneumococos do sorotipo 19A identificados entre os
colonizados (crianças e idosos) foram resistentes a penicilina parenteral (breakpoints para
meningite e administração oral), cefuroxima (breakpoints para administração parenteral e oral), azitromicina, eritromicina, tetraciclina e sulfametoxazol-trimetoprim. A taxa de resistência a
meropenem foi de 93,9%, para clindamicina foi de 90,9% e para cefepime e ceftriaxona foi de
87,9% (breakpoints para meningite). A pressão seletiva causada pela vacinação e a resistência
aos antimicrobianos, podem ter contribuído para que o sorotipo 19A ocupasse o nicho dos
sorotipos vacinais tanto em portadores como em casos de DPI. Mesmo com a vacinação, a
doença pneumocócica permanece como um importante motivo de preocupação, seja pela
emergência de sorotipos não vacinais, seja pela resistência a antimicrobianos.
Descrição
Tese (Doutorado)-Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Doença Pneumocócica, Colonização, Sorotipo 19A, Resistência aos Antimicrobianos, CC320