Saúde mental e luto materno: possíveis repercussões sobre o desenvolvimento do bebê
Carregando...
Data
2021
Autores
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editora
Editor Literário
Resumo
Esta Tese de Doutorado objetivou avaliar o desenvolvimento de bebês de seis a 24
meses de vida, buscando verificar possíveis repercussões de aspectos emocionais
maternos, em especial, de vivências de perda prévia de filho e de luto materno, sobre
o desenvolvimento emocional. Cabe ressaltar que, nesta Tese, “experiência de perda
de filho” foi definida como qualquer perda ocorrida desde a gestação até a primeira
infância (6 anos). Foram construídos três artigos para elucidar este objetivo. O
primeiro artigo é uma revisão sistemática (PROSPERO no CRD42019135655) que
buscou investigar possíveis repercussões do luto materno seguida da morte de um
filho, durante a gestação, período perinatal e/ou na primeira infância, no
desenvolvimento do bebê nascido subsequentemente à perda. Foram seguidas as
recomendações PRISMA para a condução do estudo. Dentre os registros localizados,
sete artigos foram selecionados e analisados pelo STROBE. Os resultados
mostraram-se inconclusivos, uma vez que tanto se constatou associação entre apego
inseguro e desorganizado e dificuldades no desenvolvimento motor do bebê nascido
subsequentemente à perda, quanto nenhuma associação entre tipo de apego do bebê
e luto materno. No segundo artigo, empírico, de caráter misto, buscou-se
compreender o processo de luto de quatro mulheres que possuíam filhos nascidos
antes e depois de uma perda gestacional (PG), a fim de investigar o potencial
traumático desta perda, considerando as perspectivas de Winnicott e Ferenczi, e
analisar as eventuais repercussões deste processo na vivência da maternidade. Além
de Questionário Sociodemográfico e Clínico (QSC), do Brief Symptom Inventory (BSI)
e do Prolonged Grief Disorder-13 (PG13), as mães foram entrevistadas. Analisou-se
pela técnica de síntese de casos cruzados. Verificou-se que as mães tanto sentiram
que perderam um filho e vivenciaram processo de luto quanto não sentiram e não
referiram ter vivenciado luto em decorrência da PG. Observou-se o potencial
traumático na vivência da PG, porque nem todas as mulheres experenciam a PG como
perda de filho, embora sofram emocionalmente devido a perda. A imaterialidade da
PG propicia uma abertura à vulnerabilidade psíquica, podendo repercutir por meio de
modificações emocionais na vivência da maternidade. Destacou-se o papel da
espiritualidade e da presença de filhos nascidos anteriormente à perda na vivência da
PG. Por fim, no terceiro artigo, também empírico, realizou-se um estudo quantitativo
e transversal com o objetivo de avaliar associações entre variáveis maternas (presença de perda de um filho desde a gestação até a primeira infância, presença de
luto prolongado e aspectos psicopatológicos) e sintomas psicofuncionais (SP) em
bebês de seis a 24 meses nascidos após esta perda. A amostra foi composta por 598
díades mãe-bebê. Destas 23% das mães experienciaram algum tipo de perda de filho.
Para a coleta de dados, utilizaram-se QSC, Questionário de Sintomas Somáticos do
Bebê, BSI, Escala Revisada de Ajustamento Conjugal, Questionário sobre Situações
de Perda e Luto Materno e o PG13. Realizou-se estatística descritiva, teste t de
Student e testes qui-quadrado para comparação entre grupos de mães com e sem
histórico de perda de filho e, por fim, análises de covariância (ANCOVA) com intuito
de verificar quais variáveis poderiam ser preditoras de SP nos bebês. Observou-se
que mães que perderam um filho não apresentaram mais sintomas psicopatológicos
(BSI) do que aquelas que não perderam. Contudo, elas perceberam maior quantidade
de sintomas psicofuncionais nos seus filhos nascidos subsequentemente à perda,
quando comparados aos bebês de mães sem essa vivência. Além disso, a percepção
da qualidade do ajustamento conjugal para as mães do estudo associou-se com a
qualidade da saúde mental materna (menor presença de sintomas psicopatológicos).
Dessa forma, verifica-se que a experiência de perda de filho seguida pelo nascimento
de um novo bebê pode ser complexa e vivenciada das mais diferentes maneiras pelas
mulheres. Além disso, a maternidade após a perda parece estar permeada por
maiores preocupação da mulher frente a questões de desenvolvimento precoce do
bebê, ao mesmo tempo em que o bebê pode estar sinalizando um descompasso na
díade mãe-bebê, através de mais SP. Com base nos três estudos que compuseram a
Tese, foi possível concluir que a perda de filho é um tema delicado, complexo e
multifacetado. Parece existir repercussão da perda prévia de filho na relação mãe-
bebê, contudo ainda existem lacunas a serem exploradas. Novos estudos devem
empregar avaliação de outras dimensões do desenvolvimento do bebê, bem como
considerar acompanhar algumas variáveis ao longo do tempo para a compreensão do
processo de enlutamento materno decorrente de perda de filho, tais como o
desenvolvimento infantil e a saúde mental materna. Ainda, a adaptação ou criação de
novos instrumentos para a avaliação do enlutamento materno mostram-se
necessários.
Descrição
Tese (Doutorado)-Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Maternidade, Relação Mãe-Filho, Desenvolvimento Infantil, Luto, Morte, [en] Parenting, [en] Mother-Child Relations, [en] Child Development, [en] Bereavement, [en] Death