Análise molecular de variantes de grupos sanguíneos em populações indígenas
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Data
2018
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Editor Literário
Resumo
A frequência dos alelos de grupos sanguíneos é diferente de acordo com a origem
étnica da população, o que torna importante a determinação da variabilidade
desses alelos em tribos indígenas. Devido as características culturais, que, por
vezes, podem ser somadas à localização geográfica de difícil acesso, o isolamento,
endocruzamentos e efeito do fundador podem propiciar o aumento da frequência
de genótipos que são raros nas demais populações. Esta condição tem impacto
direto na prática transfusional, visto que estes genótipos raros não são comuns na
população de doadores de sangue. A presente dissertação analisou a variabilidade
genética em 6 marcadores relacionados a expressão de antígenos de grupos
sanguíneos (Diego, Kell, Duffy, Kidd e MNS) que apresentam impacto na prática
transfusional em indivíduos de tribos indigenas Kaingang (n = 72) e Guarani (n =
234) amostradas no período entre 1990 — 2000. A variabilidade observada nesses
grupos foi relacionada com a observada em tribos Kaingang e Guarani amostradas
no período de 1950-1960, com o banco de dados 1000 genomas (população de
Americanos, Asiáticos, Europeus e Africanos) e com doadores de sangue
brasileiros das regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste. A análise das variantes
genéticas de grupos sanguíneos foi realizada utilizando a técnica de PCR em tempo
real, com sondas de hidrólise do sistema TaqManB (Thermo Fisher) para o sistema
Diego c.2561C>T (D/*01/*02, rs2285644), Kell c.578 C>T (KEL*01/*02,rs 8176058),
Duffy c.125 A>G e c.1-67T>C (FY*01/*02, rs12075; FY*02N.01, rs2814778), Kidd
c.838G>A (JK*01/*02, rs1058396) e MNS c.143T>C (GYPB*S/GYPB*s,
rs7683365). As frequências alélicas foram comparadas utilizando o teste de Qui-
quadrado com correção de Yates. Todas as frequências genotípicas estão de
acordo com o esperado para populações em equilíbrio de Hardy-Weinberg. Quando
comparados os resultados com amostras de Kaingang e Guarani coletadas no
período de 1950-1960 observamos diferenças significativas (p < 0,05) para os
alelos do sistema Diego (D/*01) e Duffy (FY*01) sugerindo um processo de
miscigenação. Para todos os alelos analisados encontramos diferença significativa
(p < 0,05) entre as tribos indígenas avaliadas e os dados de genotipagem de
doadores de sangue brasileiros (Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São
Paulo, Minas Gerais, Bahia e região do Norte do Brasil — ntotal= 3215), com exceção
da amostra de doadores de sangue descendentes de Japoneses, principalmente
para a tribo Guarani. De acordo com os resultados obtidos através da análise de
Fsr, com intervalo de confiança de 95%, a diferenciação genética foi maior entre as
populações de Kaingang e Africanos (Fs7T= 0,168) e de Guarani e Africanos (FsT=
0,190) do que com as outras populações avaliadas pelo Projeto 1000 Genomas
(Ntotal = 2504). Embora não exista grande diferenciação genética, para as variantes
analisadas, entre os ameríndios do presente estudo quando comparados com
populações de Europeus, Asiáticos e Americanos, as diferenças de frequências
alélicas e genotipicas entre as populações indígenas e de doadores de sangue
devem ser consideradas. Isso porque estas diferenças podem impactar na prática
transfusional, levando a aloimunização de indígenas que necessitem de transfusão
sanguínea e, também, na dificuldade de encontrar doadores de sangue compatíveis
com um receptor de hemocomponentes indígena. Com base nos dados gerados
pelo presente estudo, há evidências que haverá um aumento de probabilidade de
se encontrar um doador de sangue compatível para transfusão sanguínea em
pacientes Ameríndios entre os doadores de sangue descendentes de asiáticos.
Descrição
Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Biociências, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Variabilidade Genética, Ameríndios, Grupos Sanguíneos, [en] Blood Group Antigens, [en] Indians, South American, [en] Blood Group Antigens