Perda gestacional em perspectiva: vivências de luto parental
Data
2021
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Editora
Wagner Wessfll
Editor Literário
Resumo
A perda gestacional (PG) apresenta repercussões particulares, sendo o não reconhecimento social e o
despreparo das equipes de saúde para lidar com essa situação atravessamentos que podem acarretar
um processo de luto complexo e singular. A literatura evidencia modos distintos de vivência da PG
por homens e mulheres, embora ainda sejam escassos os estudos a partir da perspectiva masculina.
Esta Dissertação objetiva compreender a experiência de homens e mulheres que compartilharam uma
PG, suas repercussões e possíveis diferenças no seu processo de luto, assim como o cuidado oferecido
pelos profissionais de saúde. Para isso, realizou-se um estudo teórico para refletir sobre o cuidado
destinado a pais e mães em situação de PG pelos profissionais de saúde, com base no conceito de
Ética do cuidado de Figueiredo (2007/2011) e de conceitos psicanalíticos relacionados. Ainda,
realizou-se um estudo empírico qualitativo, com delineamento de estudo de casos múltiplos (Yin,
2005), para investigar as repercussões e as diferenças na vivência de PG e no processo de luto de
homens e mulheres que vivenciaram uma PG nos últimos 12 meses. Os participantes completaram
uma Ficha de Dados Sócio-Demográficos e Clínicos, o Brief Symptom Inventory e a Escala de Luto
Perinatal, para a sua caracterização, sendo após realizada uma entrevista semiestruturada individual.
O estudo teórico concluiu que a ausência de cuidados satisfatórios diante uma vivência de PG pode
ser sentida tanto como invasão quanto como negligência, ambas configurando uma experiência de
descuido. Apontou também que o cuidado e a assistência oferecidos aos pais e mães não deve estar
centrado apenas nos aparatos técnicos e na atenção aos aspectos físicos, englobando outras esferas,
como o olhar humanizado, a empatia e o acolhimento emocional dos envolvidos, com o fornecimento
de apoio de diferentes formas (técnico, emocional e social). Já o estudo empírico evidenciou distintas
repercussões e caminhos encontrados por homens e mulheres para a vivência do luto decorrente de
uma PG, influenciados pela característica particular da vivência corporal da gestação e da PG na
mulher. Essa característica mostrou-se um importante demarcador dessas diferentes experiências,
pautadas em processos psíquicos singulares e na compreensão social de que a diferença corporal
acarretaria uma disparidade na dupla conjugal em relação à dor e ao sofrimento. A percepção de que
a vivência de PG é mais sofrida nas mulheres impactou em maior silenciamento e em luto encoberto
nos homens. Observou-se neles comportamentos de evitação do sofrimento e um maior tempo de
negação frente à notícia da PG. Nas mulheres, evidenciou-se maior necessidade de falar sobre a perda
e abertura para trocas e busca de apoio. Culpa e isolamento social foram observados em ambos, com
modos e objetivos distintos. A forma como o parto aconteceu, incluindo o cuidado das equipes de
saúde, evidenciou desdobramentos singulares, atenuando ou complicando a vivência da PG.
Verificou-se, ainda, que a flexibilidade de papéis de apoio entre o casal, o sentir-se mãe/pai mesmo
após a morte do filho, a espiritualidade como forma de atribuição de sentido e a presença de rituais
de despedida e movimentos simbólicos facilitaram o processo de elaboração e (re)significação da PG.
Descrição
Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Saúde, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Perda Gestacional, Óbito Fetal, Luto Parental, Assistência à Saúde, Parentalidade, [en] Fetal Death, [en] Delivery of Health Care, [en] Parenting