Perfil nutricional e neuropsicológico das funções executivas no transtorno da compulsão alimentar periódica

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Data
2014
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Resumo
A relação entre a neuropsicologia do funcionamento executivo e os transtornos alimentares (TA) é, ainda, pouco documentada na literatura. Quando abordamos um transtorno específico, como o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), essa literatura se torna ainda mais restrita. Além disso, por ter sido esse transtorno adicionado recentemente como categoria diagnóstica no Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria/DSM-V (2013) dados mais concisos sobre o perfil nutricional desses pacientes em comparação a indivíduos com o mesmo estado nutricional ainda são escassos. O presente estudo teve por objetivo identificar o perfil nutricional e neuropsicológico das funções executivas (FE) no TCAP, por meio de um estudo transversal realizado com 36 pacientes, de ambos os sexos e idade entre 18 e 65 anos, com diagnóstico principal de obesidade. Esses foram divididos em dois grupos, um deles com rastreamento positivo para TCAP, de acordo com a Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP), e outro sem o transtorno. Os critérios de exclusão foram participantes com história de lesão cerebral ou doenças neurológicas potencialmente associadas com déficits cognitivos que poderiam ter um impacto sobre seu comportamento alimentar ou estado nutriconal, além de mínimo de seis anos de escolaridade. Quanto ao perfil neuropsicológico executivo de pacientes obesos com TCAP, os resultados indicaram que, quanto maior a gravidade do TA, menor o desempenho nas FE de atenção seletiva e controle inibitório (rs= -0,565; p= 0,015). Com isso obteve-se uma mediana diferente entre os grupos (p= 0,04) no teste do tipo Go/No-go, mostrando que os participantes que menos omitiram teclar no computador no momento que foi previamente combinado, têm maior gravidade do TCAP de acordo com a ECAP. Pode-se afirmar, também, que participantes com TCAP são menos seletivos à escolha dos alvos, conduta muito similar a que acontece em um episódio de compulsão alimentar (ECA), no qual o paciente não tem um plano prévio de ação e não consegue medir a gravidade da ação a longo tempo. Em relação ao Iowa Gambling Task (IGT), a pontuação média final do grupo sem TCAP foi maior (18,55 ± 22,48) do que aqueles participantes com TCAP (-5,66 ± 25,13) e, mesmo com um desvio-padrão alto, os grupos apresentaram diferença estatisticamente significativa entre si (p= 0,004), mostrando que participantes com TCAP têm pior desempenho em comparação ao grupo controle quando avaliados sobre a tomada de decisão e o planejamento. Além disso, o resultado do IGT separado por categorias (prejudicado, limítrofe e sem prejuízo), em associação com ter ou não o TCAP, mostrou resultado estatisticamente significativo (p= 0,005). Em relação ao estado nutricional dos pacientes com TCAP, não diferiu daqueles sem o transtorno. Assim, o estado de saúde debilitado mostrou-se relacionado com a obesidade do participante e não com o TA em si. Contudo, ao explanarmos o grupo de participantes sem TCAP, isoladamente, obtevese um grau de associação significativa (rs= -0,534; p= 0,023) entre o índice de massa corporal e o desempenho final no IGT. É de suma importância ressaltar que os grupos (obesos com e obesos sem TCAP) apresentaram características similares entre si nas suas características, como: escolaridade, renda familiar, idade, entre outros. O que demonstra que as amostras são homogêneas entre si e dá suporte para a comparação de dados da FE. Assim, concluiu-se que pacientes obesos com TCAP apresentam, em sua maioria, déficits de atenção seletiva, controle inibitório, tomada de decisão e planejamento que podem estar diretamente relacionados com o episódio de compulsão alimentar e, por sua vez, com TCAP. O estado nutricional não difere entre os grupos, não apresentando ligação com o transtorno. Sabese que mais estudos são necessários para que se possa explorar a relação entre déficit da FE e TCAP. Essa nova categoria diagnóstica vem se mostrando muito específica nas características patológicas, fazendo-se necessário encontrar respaldo científico para o adequado tratamento desse transtorno do ponto de vista nutricional e psicológico.
Descrição
Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Palavras-chave
Transtorno da Compulsão Alimentar, Função Executiva, Neuropsicologia, Obesidade, Estado Nutricional, [en] Binge-Eating Disorder, [en] Executive Function, [en] Neuropsychology, [en] Obesity, [en] Nutritional Status
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